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Esportes

Discórdias marcaram taça Ioduran, duelo Rio-SP do futebol de 1917, 18 e 19

⚽ Era 1917, o futebol no Brasil estava em sua segunda década de existência. A taça Ioduran (laboratório farmacêutico que a ofereceu) foi criada para a disputa anual entre os campeões de São Paulo e do Distrito Federal (Rio de Janeiro), indicados pela APSA (Associação Paulista de Sports Athleticos) e a LMDT (Liga Metropolitana de Desportos Terrestres). 

A taça Ioduran, depositada no Museu do Ipiranga. Foto: Ana Paula Fernandes

Porém, em três disputas, duas não aconteceram e todas envolveram o Paulistano (que naquele momento chegou ao tetracampeonato, em 1916-17-18-19 – leia mais sobre estas conquistas clicando aqui). 

A taça, em comum acordo entre os envolvidos, foi depositada em 1921 no acervo do Museu do Ipiranga, na capital paulista, onde se encontra até os dias atuais.

Primeiro confronto não aconteceu
Na primeira edição (1917), o time alvirrubro iria enfrentar o América, que acabou campeão desta disputa por W.O. (walkover em inglês, ou vitória por não comparecimento do adversário, em tom explicativo).

O motivo da ausência vinha de 1914, quando o time alvirrubro venceu por 3 a 2 amistoso no Velódromo, em 24/5. O Paulistano foi acusado pela mídia fluminense de ter corrompido dois jogadores do América para, assim, vencer deslealmente. A LMDT suspendeu os atletas. 

A falta de posicionamento do América provocou descontentamento na diretoria do CAP, e as relações entre as agremiações ficaram estremecidas por anos.

No único jogo, vitória
Em 1918, o jogo foi realizado e o Paulistano venceu o Fluminense por 3 a 2, de virada. Foi em 7/4, no campo da rua General Severiano, no Rio.

Machado e Zezé marcaram os gols para o time tricolor no primeiro tempo. No segundo tempo, Zonzo e Mario Andrada, com dois (um de pênalti), garantiram a vitória do time alvirrubro sobre os cariocas e, com isso, trouxeram a taça na bagagem.

O time campeão foi: Cunha Bueno; Orlando e Carlito Aranha; Sergio, Gullo e Ferreira; Agnello, Mario Andrada, Zonzo, Mariano e Madureira.

Confusão entre entidades acaba com a disputa
Já em 1919, uma crise envolvendo transferências de jogadores fez as entidades dos dois estados romperem relações. Paulistano e Fluminense eram, novamente, os atuais campeões e deveriam disputar a taça em 17/8, em São Paulo, já que o CAP havia vencido a edição anterior.

Porém, a APSA e a LMDT entraram em conflito pela transferência do zagueiro Luiz Palamone, do Mackenzie, ao Botafogo. O defensor negou ser este o motivo da mudança, e o time alvinegro disse que já havia feito a regularização.

Em 19/5, a APSA negou o passe do jogador à LMDT. Havia nessa atitude uma medida protetiva aos princípios do amadorismo, já que os dirigentes da entidade paulista entendiam que os jogadores estavam sendo “atraídos por promessas de emprego e outros meios de sedução” – ou seja: salários, para jogarem em outros Estados.

Palamone entrou com recurso na CBD (Confederação Brasileira de Desportos) contra a decisão, alegando que desejava se transferir ao Rio de Janeiro para estudar. O parecer da entidade máxima foi favorável ao jogador. 

Diante disso, a diretoria da APSA resolveu, em 24/7, que, até que a CBD aprovasse uma lei que estabelecesse estágio de pelo menos um ano para transferência de jogadores de um Estado para outro, os jogos dos times filiados a ela com outros Estados estavam suspensos. Também negava colaboração de jogadores paulistas para os jogos internacionais de qualquer categoria que fossem disputados fora de São Paulo.

Sem o confronto, o Fluminense foi declarado campeão, exigindo, junto com a Metropolitana, que o alvirrubro entregasse o objeto. A diretoria do CAP relutou, postura que gerou rompimento das relações e dois anos de exaustivos debates. 

Este conflito gerou a Lei do Estágio de Amadores, em 1920. Mas, só em outubro de 1921 finalmente cessaram as animosidades. Uma reunião entre os presidentes da CBD, José Eduardo de Macedo Soares; da APSA, Benedicto Montenegro; e do Paulistano, Antonio Prado Junior, fechou o acordo que culminou com o recolhimento definitivo da taça.

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